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Ontem fui rio. Amanhã serei mar. Hoje sou Pororoca.

Quando soube que 2010 seria um ano de grandes mudanças, eu — que não acredito muito nessa coisa de horóscopo e coisa e tal — fui um tanto cético. Ainda mais por saber que os últimos anos já foram de grandes mudanças. Separação, mudança de estado, mudança de trabalho, mudança de foco de trabalho, outra mudança de estado, outra mudança de trabalho, mais mudanças de casa e trabalho no mesmo ano … ufa!

Achei que 2010 ia ser tranquilo, pra compensar tanta mudança. Mas não foi.

Daí que houve mudanças grandes. E normalmente o que acontece quando algo dessa magnitude ocorre é dar uma bagunçada geral. A gente se sente meio perdido, meio sem chão, sem norte e leva um tempo até as coisas começarem a se ajustar novamente.

Eu acredito que toda mudança em nossa vida é positiva, por mais que a experiência em si não seja agradável, pelo menos nos ensina algo que precisamos aprender. E é esse o processo que gostaria de compartilhar com vocês, com a analogia do encontro das águas.

O RIO

Quando estamos tranquilos, nos sentimos seguros, estáveis, preparados. Esse é um momento de risco, pois se nos acomodamos demais, as mudanças podem se parecer mais impactantes. Nessa “fase rio” nós seguimos nossa vida com certas rotinas e costumes. As coisas são relativamente previsíveis e as pequenas alterações no curso são controladas.

Nós aprendemos — com o tempo — quais os melhores períodos de venda em nosso comércio, quais os dias da semana com maior tráfego em nosso site, quais os dias e situações em que sua parceira está de melhor humor, quando o chefe está de mau humor e não é seguro pedir aquele aumento, quais os períodos de prova ou o calendário escolar de nossos filhos. São como pequenas pedras ou corredeiras no curso do rio, algumas curvas, época de cheia ou de seca. Nos acostumamos e aprendemos, durante o percurso, o caminho que estamos seguindo.

Isso acontece conosco em todas as fases da vida e em diversos setores dela, seja no trabalho, em casa, com seu cônjuge, pai, mãe, filhos, etc. A estabilidade, a mudança calculada, os pequenos riscos fazem com que sejamos mais seguros e menos alertas.

A POROROCA

Então vem uma grande mudança, um abalo para o qual náo estávamos preparados. Demissão, gravidez inesperada, separação, levar uma bomba na faculdade e não se formar junto com a turma, falecimento de familiar num acidente. Qualquer coisa para a qual você não esteja preparado e de muita intensidade pode tirar você bastante do seu equilíbrio. Aí você se sente assim, como numa Pororoca, uma mistura de emoções, tudo muito intenso, forte, confuso, perturbador.

Durante a Pororoca muita coisa pode acontecer, desde depressão até euforia (sim, a mudança pode ser uma super surpresa boa, mas por ser life changing, deixar-nos confusos) passando por sentimentos diversos e atitudes desesperadas. Momento delicado e extremamente importante. Aqui nós vamos aprender o que precisamos aprender para enfrentar a próxima fase.

O importante durante a Pororoca é não se segurar, não passar por cima dos seus sentimentos, não fingir que nada aconteceu. Enfrente a mudança. Viva a mudança. Se quiser chorar, não tenha vergonha. Se quiser se trancar num quarto pra pensar por horas e horas, não se force a estar com alguém. É muito comum as pessoas tentarem nos motivar, quando precisamos chorar nosso luto, enterrar nossos mortos (não necessariamente de forma literal).

Mas cuidado! Observe-se para não cometer algo grave de forma impensada ou entregar-se à depressão. Seu luto precisa dar frutos. Você precisa enfrentar os sentimentos e questionar-se sobre eles, aprender, crescer.

O MAR

A fase seguinte define-se quando nos percebemos com opções. Ufa! Passou a confusão toda, a tristeza, o sentir-se perdido e sem chão, nos vemos agora com várias direções que podem ser tomadas. Saímos daquele fluxo contínuo e seguro do rio, atravessamos a perigosa Pororoca e aqui estamos, em alto mar, podendo escolher qualquer direção.

Ficamos maravilhados. Ou aterrorizados. Tudo bem, é normal.

Com o mar, vem todo o mistério de um novo ambiente que não dominamos. Os desafios de escolher seu próprio caminho, os riscos inerentes à escolha (ou escolhas), o medo e a falta de costume de precisar remar.

Em algum tempo e diversas escolhas feitas, direções experimentadas até achar um curso, nos vimos novamente num ambiente que conhecemos, seguindo um fluxo que nós traçamos, numa velocidade que nós imprimimos.

Daí percebemos que não havíamos chegado no mar aberto. Foi nosso rio que se ampliou. Nossa realidade se ampliou e nós precisávamos crescer também. E percebemos, com o passar do tempo, que isso é cíclico. Durante toda a nossa vida nós passaremos por Pororocas, que ampliarão nossos horizontes, nos farão crescer.

Se sua vida não tem corredeiras e pedrinhas, apenas Pororocas, isso pode significar que você se desespera muito fácil com mudanças ou não aprende nada com elas. Por outro lado, se nunca houve uma Pororoca em sua vida, apenas marolinhas, talvez você ande subestimando seus problemas e acaba não aprendendo muita coisa com eles também. Na vida nós precisamos das Pororocas, assim como das pequenas cachoeiras no caminho. Evitá-las só adia nosso crescimento.

Você está preparado? Pois ouvi dizer que 2011 será um ano de grandes mudanças …

Feliz Ano Novo!

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